sábado, 27 de abril de 2013

A dura rotina de trabalhadores de frigoríficos brasileiros



Exposição a instrumentos perfuro-cortantes como facas e serras; realização de movimentos repetitivos (de acordo com a pesquisa, em uma atividade de desossa de aves, alguns trabalhadores chegam a realizar dezoito movimentos em quinze segundos – esforço três vezes superior ao limite estipulado pelos especialistas em saúde do trabalho); ritmo de trabalho excessivo; cobranças de metas; ambientes insalubres e baixas tempreaturas são apenas alguns dos inúmeros riscos diários que envolvem os trabalhos nos frigoríficos.





Segundo a Repórter Brasil , uma equipe da ONG percorreu diversos pontos nas regiões Sul e Centro-Oeste à procura de histórias de vida que pudessem ilustrar esses problemas.

De acordo com os diretores Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros, em entrevista  para o programa Metropolis, da TV Cultura, a intenção do documentário não é a de chocar os espectadores com cenas impactantes, mas fazer com que as pessoas parem para refletir sobre as condições de trabalho que estão por trás do alimento que consomem e sobre as relações existentes entre as empresas que produzem esse alimento e seus funcionários. 


De acordo com o Ministério da Previdência Social, o risco de traumatismos de cabeça ou abdômen em trabalhadores de frigoríficos de bovinos é três vezes maior  do que em outras atividades econômicas. Em se tratando do trabalho em linhas de desossa de frango, o risco de uma pessoa desenvolver uma tendinite é 743% maior do que em outras atividades. Sem falar nos problemas psicológicos gerados pelo ritmo intenso de trabalho e  pressão por produtividade e metas, dentre outros.

E não é apenas sobre o trabalhador que recai o peso desses problemas. O pagamento de pensões e auxílios realizados pela Previdência Nacional, em casos de afastamentos por acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, é um dos principais agravantes da crise vivida atualmente pelo órgão (Talvez tenha seja esse um dos motivos mais fortes para criação da NR-36 - SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM EMPRESAS DE ABATE E
PROCESSAMENTO DE CARNES E DERIVADOS). Veja o que diz Juliana Varandas, terapeuta ocupacional do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) de Chapecó (SC), em entrevista para a Repórter Brasil: 

“Cerca de 80% do público atendido aqui na região é de frigoríficos. Ainda é um pouco difícil porque o círculo vicioso já foi criado. O trabalhador adoece e vem pro INSS. Ele não consegue retornar, ele fica aqui. E as empresas vão contratando outras pessoas. Então já se criou um círculo que agora para desfazer não é tão rápido e fácil”




E a situação tende a piorar, se levarmos em conta as projeções para o setor. Desde 2010, o Brasil ocupa o terceiro lugar em exportação de produtos agrícolas do mundo (segundo dados da Organização Mundial do Comércio -OMC). E estudos do Ministério da Agricultura para 2019/2020 apontam que a produção nacional de carnes deverá suprir, até 2020, 44,5% do mercado mundial, o que indica que o Brasil manterá a posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina e de frango (O Estado de São Paulo, 2010).




Apesar de tudo, há esperança. E ela está na conscientização. Para Paulo Cervo, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a solução para quadro esboçado no documentário “basicamente, é conscientizar essas empresas para reprojetar essas tarefas. Introduzir pausas, para que exista uma recomposição dos tecidos dos membros superiores, da coluna. Em algumas vai ter que ter diminuição de ritmo de produção. Nós estamos hoje chegando só no diagnóstico do setor. Mas as empresas ainda refratárias a esse diagnóstico” (Repórter Brasil).

Parecem medidas simples de serem implantadas, no entanto, assim como acontece na maioria das empresas, quando a solução para o problema das condições inseguras no trabalho esbarra na diminuição da produtividade, tudo se torna muito mais difícil. Como se uma coisa inviabilizasse a outra.






Fonte:http://www.aprendendonormas.com

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