terça-feira, 16 de outubro de 2012

O centenário de um cacique político

Texto: PEDRO VALE
DO NOVO JORNAL

Lauro Arruda Câmara era um daqueles políticos vocacionados. Seja na linha de frente, como prefeito de Nova Cruz, seja nos bastidores, prestando consultoria à gestão de sua mulher Joanita, também prefeita do município depois dele, Lauro era inquestionavelmente um político autêntico e de visão. Se estivesse vivo, teria completado 100 anos de idade na última terça-feira (9). Para prestar uma homenagem ao homem que ele foi e ao legado que deixou, o NOVO JORNAL (fundado por um de seus filhos) publica esta reportagem (escrita por um de seus netos).
Embora a história de Lauro esteja intrinsecamente ligada ao município de Nova Cruz, na região Agreste do Rio Grande do Norte, onde morou durante a maior parte de sua vida e chegou a administrá-lo como prefeito de 1948 a 1950, ele nasceu em um local distante das terras potiguares; no seringal de Guajarraã, município de Lábrea, no Amazonas, em 9 de outubro de ano de 1912.
Com o início da decadência do ciclo da borracha, o seringueiro Antônio Arruda Câmara, pai de Lauro, se mudou com sua família para Guarabira (PB) em 1914, onde vivia a família de sua mulher Taciana, mãe de Lauro.
Leonardo Arruda Câmara, um dos filhos de Lauro, é quem conta a história. Embora ele não saiba ao certo por qual motivo Antônio tenha chegado a Nova Cruz, o fato é que o patriarca passou pelo município e se encantou. Ainda em 1914, toda a família Arruda Câmara se mudou para a cidade.
Entre os filhos de Antônio, apenas Lauro e Domício, o mais velho, nasceram em Lábrea. Armando, que estava na barriga de Taciana quando os Arruda Câmara emigraram do Amazonas, nasceu na Paraíba. Todos os outros 10 filhos nasceram em Nova Cruz.
Em linhas gerais, a trajetória de Lauro foi parecida com a de seu pai. Quando se estabeleceu em Nova Cruz, Antônio abriu um armazém de secos e molhados e depois se lançou na política, tendo administrado o município entre 1930-1934 e 1943-1946.
Lauro, por sua vez, abriu uma loja de tecidos e confecções na cidade após ter retornado de seus estudos em Natal (ele teve que largar o segundo grau que cursava no Colégio Marista de Natal por causa de uma enfermidade na perna) antes de lançar sua candidatura a prefeito pelo PSD. O pessedista administrou a cidade de 48 a 50, quando largou a prefeitura para se candidatar a deputado estadual, cargo que exerceu e à qual se candidatou sucessivamente até 1966.
A partir de então, Lauro foi atuando cada vez mais nos bastidores. Sua mulher, Dona Joanita Arruda, que chegou a ser prefeita de Nova Cruz nos anos 50, ocupou a frente da loja – que, com a chegada da eletricidade em Nova Cruz, acabou se tornando uma loja de eletrodomésticos, o Comércio Arruda Câmara.
Mais para o final de sua vida, o homem tão bem relacionado no meio político e que frequentemente trocava correspondências com Juscelino Kubitschek – que foi presidente do Brasil entre 1956 e 1961 – preferiu a tranquilidade do campo do que a agitação política da cidade. Em certo momento, ele se mudou definitivamente de Nova Cruz para a fazenda dos Arruda Câmara em São José do Campestre, viajando à cidade apenas esporadicamente.
Lauro morou na fazenda até o fim de sua vida. Homem de hábitos saudáveis, que não fumava e nem bebia, ele foi diagnosticado com um câncer de fígado aos 84 anos. Morreu 17 dias após o diagnóstico, no dia 24 de julho de 1996, em Natal. Deixou seis filhos, 17 netos, 15 bisnetos e uma trineta. O seu centenário aconteceu três meses depois do centenário de sua mulher, Joanita, que morreu em 29 de abril de 1993 e completaria 100 anos em 27 de julho deste ano.

Fonte: http://novojornal.jor.br/blog/2012/10/14/o-centenario-de-um-cacique-politico/

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